terça-feira, 24 de julho de 2012

Mercedes 190E 2.3 16 - Bmw E30 M3

Dois ícones dos anos 80, e que não são de todo desconhecidos.
No entanto achei este vídeo interessante porque, finalmente, encontro um artigo (neste caso um vídeo) da imprensa automobilística que partilha a minha opinião.

É claro que o Bmw é "o" ícone, a berlina desportiva dos anos 80, e o grande vencedor nos circuitos.

Mas há algo no Mercedes.
Talvez a história do seu desenvolvimento conturbado. Inicialmente a ideia da Mercedes era usar o 190 no campeonato de Rallyes, mas com o aparecimento da tracção às 4 rodas pelos Audi Quattro o projecto estava ultrapassado antes mesmo de participar em qualquer prova, o obrigou a Mercedes, para não desperdiçar todo o dinheiro que já tinha sido gasto, nomeadamente o que foi pago à Cosworth para desenvolver o motor, a encontrar outra competição onde colocar o 190.
Talvez o facto do nome de Senna, nessa altura ainda um jovem e desconhecido piloto na F1,estar ligado ao aparecimento do 190E 2.3 16, ao ter ganho a prova que foi promovida pela Mercedes em 1984 no GP da Alemanha para divulgar o novo modelo.
Talvez seja o aspecto "civilizado", discreto, associado ao som tipico daquele motor Cosworth...

Bom, e o reviver deste "romance" entre mim e o 190E fez-me escrever algo para ajudar a que esta máquina mítica não caia no esquecimento. Acho que isso nunca acontecerá, mas gosto de pensar que contribui com alguma coisa para isso...
Deixo então o vídeo que falava, feito pela americana Motortrend, numa viagem à Alemanha. Curiosamente no final do vídeo o jornalista da Motortrend confessa que acabou por comprar o Mercedes e o vai levar para os EUA...


Para os que ficarem com curiosidade acerca do 190E, fica então um pequeno resumo da sua história.

O modelo 190 (referência interna W201) é introduzido em 1982, e tal como era tradição da marca na altura, era mais um carro "over engineered" - administradores da Mercedes admitiram anos mais tarde, acerca deste modelo e do W124, que a Mercedes poderia ter gasto muito menos dinheiro na produção destes carros e ainda assim teria uma qualidade e fiabilidade acima da média.

Era o primeiro Mercedes neste segmento e quiseram aproveitar todos os nichos, inclusivamente o das berlinas desportivas, onde teriam concorrência feroz e com experiência no segmento.

Para provar as capacidades e fiabilidade do novo modelo prepararam uma tentativa de record mundial. Em Agosto de 1983 na pista de Nardo, em Itália, 3 Mercedes 190E 2.3 16v estabeleceram diversos records, de entre os quais o de 50 000 km a uma velocidade média - incluindo as paragens nas boxes para abastecimentos, trocas de pneus, óleo, etc -  de 247,94km/h.


Interessante ver que houve uma altura em que as marcas contavam com os feitos e capacidades dos seus carros para fazer publicidade. Sem duvida melhor que hoje, onde o que interessa é a publicidade mais espampanante e em que nenhuma qualidade do carro é descrita, ou qual famoso é que usa os seus carros.

Em Setembro de 1983 o 190E 2.3 16v é apresentado ao publico, no Frankfurt Auto Show. Mas a Mercedes quer colocar o 190E em mais um evento para promover as suas imagem desportiva. No Grande Prémio da Alemanha em Maio de 1984, a Mercedes promoveu uma corrida com pilotos actuais da F1como Prost ou Jacques Laffite, e antigos campeões como Lauda ou Keke Rosberg, todos eles ao volante de 190E 2.3 16v iguais. O prémio seria um 190E 2.3 16v preto, e o vencedor foi um - na altura desconhecido - Ayrton Senna.



Ayrton Senna com o seu "prémio"

No final de 1984 começa a produção em série.
No centro do 190E 16v estava o motor. Com base no 4 cilindros 2.3l já existente na gama,
a Cosworth substituiu os pistons e segmentos, cambota e volante motor - para lidar com as cargas superiores e rotações mais elevadas - e criou uma cabeça de motor em liga leve com 4 válvulas por cilindro. O motor foi equipado com um sistema de injecção Bosch K-Jetronic, e em conjunto com um sistema de admissão e escape especifico para o deixar "respirar" em regimes , desenvolvia agora 185cv ás 6200rpm e um binário de 236Nm ás 4500rpm.





Para além do motor, eram muitas as diferenças dos 190E 16v:
- Kit aerodinâmico que reduzia o coeficiente de arrasto para 0,32, ao mesmo tempo que diminuía o "lift" a alta velocidade.
- Direcção mais directa e volantes menores que a restante gama.
- Interior com bancos Recaro e apenas 4 lugares




- Depósito de gasolina com 70l em vez de 55l.
- Caixa de velocidades mais curta e com dog-leg da Getrag- exactamente a mesma que o E30 M3 usa, mas curiosamente o comando do Mercedes nunca teve um tacto tão agradável como o do rival.
- Diferencial Autoblocante a 32%, e opcional (mais tarde, nos 2.5 16v, passou a ser equipamento de série) ASD, um sistema electrónico automático que controlava o bloqueio hidráulico do diferencial, variando entre os 15% e 100% de bloqueio, para melhorar a tracção. O interessante deste sistema é que, por actuar directamente sobre o diferencial e não sobre travões ou ignição como os modernos sistemas de controlo de tracção, permitia, com uma intervenção simples no sistema electrónico, o controlo manual do sistema, e assim definir o grau de bloqueio do diferencial pretendido a qualquer altura!!
- Suspensão revista e rebaixada, com sistema auto-nivelante atrás. Mais tarde passaria a ter como opção sistema auto-nivelante à frente e regulação da altura da carroçaria (variável entre + 30mm e -15mm que a altura standard).






Em 1988, em conjunto com o facelift realizado a toda a gama, a cilindrada aumenta para 2.5l, resultante do aumento diâmetro dos cilindros, de 80,25mm para 87,20mm, mantendo-se o curso. A potência passa para os 204cv ás 6750rpm e o binário para 240Nm ás 5000rpm.




E é com este upgrade que termina o 190E 16v, nos termos em que o defini aqui. Isto porque em 1989 surgem os modelos Evolution, que são na prática o oposto da discrição que marcou os 190E 16v "normais" e que os tornou tão "cool".


Não quero com isto dizer que os Evolution são modelos menores, muito pelo contrario. A nível tecnológico, estético e de performances não ficam atrás de nenhum concorrente, inclusive o E30 M3.


Evolution I

O Evolution I surge em Março de 1989, como resultado da necessidade de evolução dos carros para participação em competições do Grupo A / DTM.
O motor é completamente diferente. Mantém os 204cv de potência ás 6750rpm, mas graças ao aumento do diâmetro e diminuição do curso dos pistons, tinha agora muito maior facilidade em rodar a altos regimes, e muito maior potencial de evolução em competição. Estava disponível um Power Pack da AMG que aumentava a potência para 225cv ás 7200rpm, com um limitador agora as 7700rpm.
A nível do chassis, a travagem foi revista e aumentada, e calçava agora pneus Conti Sport Contact 225/50 com jantes agora de 16", mas de desenho semelhante as 15" dos 190E 16v normal.
O Evolution tinha ainda suspensão 23% mais dura que os 190E 16v, e foi ainda rebaixado em 19mm - tendo regulação electrónica da mesma a partir do interior do carro - , o que originou uma das características mais marcantes do Evolution: o guarda-lamas frontal "recortado" para lidar com a suspensão mais baixa.
Foram produzidos 502 Evolution I, todos em preto metalizado.









Evolution II

Em Março de 1990 é apresentado o Evolution II. A Merdeces decidiu levar o Evolution I para o túnel de vento e levar o design ao limite.
As reacções à estética do Evolution II foram imediatas. Reza a história que Wolfgang Reitzle, engenheiro da Bmw terá dito: "se aquela asa traseira funcionar, teremos que reconstruir o nosso túnel de vento." E a verdade é que funcionava.
O motor debitava agora 235cv, a travagem foi novamente revista, com pinças mais leves da Brembo, foram colocadas jantes maiores de 17" e mais leves, e rebaixado ainda mais - 45mm face ao 190E 16v normal.
Foram produzidos também 502 Evolution II.















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