Chegamos então ao último episódio da série Inside Koenigsegg, em que é abordado a parte da transmissão do Agera R.
Primeiro Christian Von Koenigsegg explica a questão da percentagem de bloqueio do diferencial ideal ou melhor, a ausência da mesma. Isto porque o que se pretende, idealmente, é um diferencial bloqueado a 100% em aceleração e em recta, mas ao chegar a uma curva, em desaceleração, o ideal será exactamente o contrário, pois um diferencial bloqueado irá trancar a traseira do carro.
Cada situação tem níveis de bloqueio do diferencial ideais diferentes. A solução da Koenigsegg passou pela construção de um diferencial electrónico, que permite a variação do nível de bloqueio consoante as situações: maior bloqueio em aceleração e em linha recta, menor bloqueio em curva, mas com a flexibilidade de, por exemplo, se se detectar uma deriva excessiva da traseira numa curva em desaceleração, aumentar o nível de bloqueio para reduzir esse comportamento.
Christian explica também o funcionamento da caixa de velocidades, em especial a particularidade da utilização de uma prquena wet clutch (embreagem multidisco em banho de óleo) para reduzir a velocidade do veio principal, não necessitando assim o sistema de aguardar pelo efeito dos anéis de sincronização. Conseguem assim usar uma caixa de velocidades sequencial "simples" com uma velocidade de engrenagem quase ao nível das mais complexas e pesadas transmissões dupla-embreagem.
Decidi juntar estes dois episódios da série Inside Koenigsegg pois estão intimamente ligados.
Comecemos pelo oitavo episódio, em que Christian Von Koenigsegg explica com pormenor o motor do Agera R, um V8 de 5l, construído pela própria Koenigsegg que produz 1140cv!
É um motor extremamente compacto e leve, sobretudo se considerarmos os valores de potência que produz.
O motor não tem em si nenhuma tecnologia inovadora, devendo as suas performances excepcionais aos materiais e a qualidade e rigor de produção do mesmo. Foi com esse objectivo que foi desenvolvido, ter os melhores componentes possíveis para ter o melhor desempenho possível. Prova disso é que, tal como Christian diz, apesar dos níveis de potência específicos incríveis, o motor tem ainda uma margem de segurança, de evolução.
O motor é de tal forma resistente que é parte integrante do chassis do Agera R. É ele que suporta toda a transmissão e suspensão traseira.
O motor é de facto um dos factores chave do desempenho do Agera R, mas como dizia antes, não tem nenhuma tecnologia revolucionária. É aqui que entra o sétimo episódio da série, onde Christian levanta um pouco o véu sobre tecnologias que estão a desenvolver para o futuro, nomeadamente o seu protótipo Free Valve.
Um dos pontos do motor tradicional onde poderá existir no futuro grandes desenvolvimentos é a distribuição. O facto de ser ser algo fixo, fisicamente ligado à rotação da cambota limita o potencial e eficiência do motor. A abertura ideal da válvula de admissão ou de escape e o tempo de abertura da mesma ás 2000rpm não são ideais ás 6000rpm, e vice-versa. É um problema que motivou já o desenvolvimento de diversas tecnologias por parte de vários fabricantes, como o sistema Vtec (Honda), Valvetronic (Bmw) ou mais recentemente o sistema Multiair do grupo Fiat, sendo este bastante inovador ao permitir para além de diferentes aberturas e tempos de abertura das válvulas também aberturas múltiplas no mesmo ciclo de rotação, reduzindo também a fricção no motor, pelo perfil da árvore de cames não actuar directamente sobre a válvula.
O sistema desenvolvido pela Koenigsegg vai ainda mais longe eliminando por completo a arvore de cames. Cada válvula para a ser controlada por um actuador hidráulico individual. Com este sistema deixa de ser preciso uma ligação entre o topo do motor e a cambota para controlar o funcionamento das válvulas, permitido assim redução de peso, dimensões e fricção no motor, para além de um controlo volumétrico ideal, ao controlar cada válvula do motor individualmente.
Esperam com esta tecnologia conseguir ganhos de 30% em potência e binário e redução de 50% no consumo de combustível, isto apenas com a aplicação da tecnologia em si, pois com este sistema é possível a utilização de um sistema de ar comprimido como o Hybrid Air da Citroen mas simplificado, pois em vez de utilizar um segundo motor em paralelo para fazer uso desse ar comprimido que é recuperado em travagem ou desaceleração, com a tecnologia Free Valve o próprio motor fará a compressão do ar em travagem ou desaceleração e a sua utilização quando em aceleração.
Bastante promissor.
Não querendo por em causa o trabalho da Drive, que fez algo de extraordinário ao abrir-nos as portas da Koenigsegg, penso que foi um erro não terem acabado a série com este episódio, devido à sua importância.
O futuro do automóvel vai trazer grandes alterações (carros híbridos, eléctricos, o aperfeiçoamento da utilização do hidrogénio, etc), muitas delas temidas pelos petrolheads. Eu sinceramente não as temo. Estes novas tecnologias irão permitir-nos manter os nossos carros, tal como o desenvolvimento do automóvel no início do século XX salvou o Cavalo dos maus tratos e abusos que vivia como animal de carga e de trabalho, permitindo que passasse a ser cuidado e mantido por quem realmente os admira.
No entanto, e como admirador de tudo o que é mecânico, é essencial que surjam pessoas e empresas como a koenigsegg, que mostram que o motor de combustão interna está longe do seu potencial máximo, que é uma tecnologia velha e sem possibilidade de evolução.
O motor de combustão interna está vivo e recomenda-se! O problema é o preço da gasolina...